A história fotográfica de Brusque na Internet

Autobiografia de Pedro Morelli - Parte II - Vida Adulta (1935-1985)

(...continuação) Leia aqui a Parte I.

No dia 12 de outubro de 1935, casei com Gisela Ristow, filha de Augusto Ristow e Maria Demarchi. Foi um dia de muita chuva. O religioso foi realizado na antiga Igreja Matriz da cidade e os festejos no Caça e Tiro Araújo Brusque. O celebrante foi o Pe. Henrique Baumeister e padrinhos Luiz e Thereza Morelli e Primo e Carolina Diegoli. O número de convidados foi aproximadamente 150 pessoas. Como naquele tempo não se costumava fazer lua-de-mel, na segunda-feira já fui trabalhar.

Convite de casamento Convite de Casamento de Pedro e Gisela Morelli

Na época do nosso casamento, a casa onde ainda hoje moramos não estava completamente pronta. Somente o quarto e a cozinha estavam prontos. Me recordo ainda que gastei na construção da casa 25 contos de réis, e eu ganhava na Loja Renaux 250 mil réis.

Família de Pedro e Gisela Morelli Em pé: Wilson Morelli, Juvani Maria Morelli Pereira, Almir Augusto Morelli. Sentados: Ismar Luiz Morelli, Gisela Morelli e Roseli Maria Morelli Coelho

Nós tivemos 6 filhos, graças a Deus todos vivos e com muita saúde, pois nunca tivemos doenças na família.

  • Altair - casado com Dulce Lyra, tiveram 6 filhos, dos quais 2 faleceram. Carlos com 2 meses e Denise com 7 anos. Ele sempre trabalhou comigo na madeireira pois nunca quis estudar.
  • Vilson - odontólogo, casado com Ligia Hoffmann, tem 3 filhos.
  • Almir Augusto - casado com Nadir Schlindwein. Coronel da Polícia Militar, hoje já reformado, tem 3 filhos.
  • Juvani Maria - casada com Darcy Leonel Pereira. Normalista, hoje proprietários da Malharia Gizo, têm 2 filhos.
  • Ismar Luiz - médico, casado com Rosélis Siemsen, tem 2 filhos.
  • Roseli Maria - normalista, casada com o engenheiro Sérgio Coelho, tem 2 filhos.

Temos 2 netos casados:

  • Edson Ivan - filho do Altair, e 1o Tenente da Polícia Militar, casado com Maria Rosicler Jäger de Mafra, tem 3 filhos.
  • Rosângela - também filha do Altair, casado com José Carlos Burigo, não tem filhos.

O Altair desquitou-se com a primeira mulher e casou em 2o casamento com Terezinha Meiring. Tem uma filha, chamada Dirlene Terezinha.

Em 1937, saí da Loja Renaux e junto o sr. Arthur Olinger, representando pelo filho Mário, me estabeleci com pequena casa de comércio numa casa antiga, na esquina onde hoje num prédio mais moderno, funciona a loja do Sr. Bruno Werner Metzler.

O ramo de negócio era gêneros alimentícios, armarinhos e fazendas em pequena escala, como era o comércio em qual da cidade. Mas como nunca fui um bom comerciante, pois não sabia dizer "não" a ninguém, e só se vendia em cadernetas para pagamento em 30 dias, devido ao fiado fui forçado a fechar as portas. Em 1940, me transferi para Porto Franco a fim de trabalhar no garimpo.

Meu pai tinha casado em 2as núpcias com Maria Pedrini, cujo casamento nasceu as filhas Flavita e Frida, ambas casadas. Poucos dias depois que cheguei a Porto Franco, meu pai faleceu, isto no dia 4 de fevereiro de 1940.

A minha madrasta Maria foi de muda para outra casa e fomos morar na casa onde ela morava, que era de propriedade do meu irmão José.

No garimpo, eu fazia sociedade com pessoas de lá. Eles trabalhavam em serviços braçais e eu fornecia bombas para extrair a água dos cercos. Quando a água era muita que precisava 2 bombas, eu ajudava nas mesmas. Os meus principais sócios foram Ernerto Maestri, Alexandre Molinari e Tranquilo Tomio. Além do garimpo, eu comprava ouro para o sr. Victor Tietzmann, que era autorizado pelo Banco do Brasil, mas a maioria do ouro era vendido clandestinamente.

Todo fim de semana, visitava as turmas do garimpo, e quando nos acertávamos no preço, comprava de 500 gramas até 1 quilo. Me recordo que o mais que cheguei a pagar foi 22 mil réis a grama.

Às segundas-feiras na oficina do sr. Victor Pereira, fundíamos o ouro em barras de aproximadamente 100 gramas e o Victor ia entregar no Banco do Brasil de Blumenau. Ali recebia uma certa importância e as barras seguiam para o Rio de Janeiro onde era feita a quilatagem do ouro. A margem de lucro era pequena.

O ouro daqui desta zona era dos melhores do Brasil. A média da quilatagem do mesmo era de 22 quilates. O ouro foi diminuindo, o pessoal desistindo, porque era um trabalho muito penoso e doentio. Fui obrigado a desistir.

Em 1941, como havia falta de professores para lecionar no interior, fui convidado a lecionar em Porto Franco.

Aceitei e tenho certeza de ter desempenhado o cargo com bastante aproveitamento para os alunos, apesar de lecionar ao mesmo tempo para 4 classes. Mais tarde, a minha esposa assumiu como auxiliar lecionando para os dois primeiros anos.

O salário de professor regente era de 150 mil réis e auxiliar, era 2/3 do salário do regente.

No meu tempo de professor, encaminhei ao Seminário os alunos, hoje sacerdotes, Pe. José Stolfi, Pe. Flávio Morelli, Pe. Antônio Thamazzia e Pe. Cosme Maestri.

Ainda hoje, quando me encontro com meus ex-alunos, com alegria, ouço os mesmos dizerem: "O que aprendi foi com o meu professor Pedro Morelli."

Porém, um fato lamentável aconteceu na minha vida de professor.

O Pe. Jorge Brand, vigário de Porto Franco, 2 vezes por semana dava doutrina na Escola. Eu com os alunos, todos os dias antes da aula, assistia com os mesmos a missa, cantava e rezava.

Certo dia, recebi do Departamento de Educação (hoje Secretaria), um folheto com o modelo dos uniformes dos alunos, cujas saias e calças, o comprimento deveria ser até o joelho.

Qual não foi a minha surpresa quando o vigário, num domingo, publicava do púlpito uma carta do vigário geral de Florianópolis, Monsenhor Harry Bauer, dizendo que ficava a critério dos pais o modelo do uniforme.

Eu, não conformado com o acontecido, pois quis fazer valer a minha autoridade na Escola, escrevi ao Departamento de Educação perguntando se devia seguir as ordens do Departamento ou dos vigários.

Dias depois, recebi do Departamento um ofício com os dizeres: "Que as ordens do Departamento tinham que ser rigorosamente cumpridas e que o Padre nada tinha a interferir na Escola."

Tomei a liberdade de fazer uma cópia do ofício que remeti ao vigário. Com esta, ele deixou de dar doutrina na Escola, mas eu continuei indo à missa com os alunos. Durante o tempo que era destinado à doutrina, eu ensinava os cantos religiosos que aprendi no Seminário.

Dentro de pouco tempo, o Padre Jorge foi substituído pelo Pe. Pedro Storm, então tudo voltou ao normal.

Como lecionava só de manhã, à tarde por diversas vezes substitui as professoras das Escolas Municipais de Guabiruba e Salto de Águas Negras, quando as mesmas entravam em licença.

Em 1943, junto com o sr. Augusto Maestri, compramos uma serraria em Botuverá (agora passo a mencionar Botuverá, pois nesta data foi mudado o nome), bem como as propriedades da família de José Venzon, cuja administração ficou a cargo do sócio Augusto, pois eu só à tarde tinha tempo para auxiliá-lo durante as férias.

Mais tarde compramos outra serraria que estava abandonada, no lugar denominado "Retiro". Reconstruímos a serraria, compramos uma junta de bois para puxar as toras e pusemos a funcionar. Mas dentro de pouco tempo, voltamos a vender aos filhos do Sr. José Paulini, que era o ex-proprietário.

No sábado que antecedia a Semana Santa de 1944, vim com a família passar o fim de semana na cidade.

Estava jogando boccia, no bar do sr. Osvaldo Gleich, ponto este que era o lugar para encontro nos fins de semana, pois ali serviam chopp, sorvetes, etc.

Ali apreciando, tomando sua cerveja, estava o sr. Otto Renaux, que me convidou para trabalhar no escritório da Fábrica Renaux. Como a minha esposa não gostava de morar em Botuverá, topou a parada e sexta-feira viemos de muda à cidade.

Algumas carroças trouxeram os poucos móveis que tínhamos, pois a maioria nós tínhamos deixado na casa da cidade. Com a esposa e os 3 filhos, viemos com a minha carroça de 1 cavalo, mas como a chapa da roda caía, amarrei com arame para não cair. Acontece que no descer uma ladeira na frente da casa do Alberto Graf, não quis brecar para não arrebentar o arame, e vinha segurando a égua somente nas rédeas. Como a descida era numa curva, não via que em cima da ponte onde terminava a descida, estava uma carroça parada, pois ali costumavam parar para dar água aos cavalos que viajavam naquela estrada. Aconteceu que desviar não tinha lugar, mas Deus nos ajudou que consegui para sem nada acontecer de grave. A minha esposa estava grávida da filha Juvani e assustou-se muito.

No emprego do escritório da Fábrica Renaux não me adaptei, fiquei somente 18 dias.

Foi quando comecei a trabalhar com madeiras. Comprava as mesmas nas serrarias que eram transportadas com carroças, além de outras madeiras que comprava das balsas que desciam pelo rio Itajaí Mirim.

Quando estava mais ou menos bem, de pleno acordo, abri a sociedade com o Augusto Maestri, ficando ele com as propriedades de Botuverá e eu com as da cidade.

Não posso deixar de fazer referências ao sr. Augusto Maestri, que sempre foi um sócio muito bacana, sério, honesto, motivo que ainda hoje somos grandes amigos. De 1947 em diante, trabalhamos sempre juntos na política, tendo sido ele sempre o meu maior cabo eleitoral.

Depois de algum tempo, fiz sociedade com o sr. Euclides Silva, que tinha saído de sócio da firma Archer, continuando na mesma João Archer e Arthur Kistenmacher.

Mas a sociedade durou pouco tempo. De pleno acordo, abrimos a sociedade, assumindo eu o ativo e passivo da firma, ele ficou com um caminhão que era da firma. A mesma não ia muito bem, mas com muito trabalho e esforço consegui pôr em dia.

Pedro Morelli Vereador
Presidente da Câmara de Vereadores em 1952

Quando já estava bem calçado, fiz novamente sociedade com Guilherme Bonomini que já trabalhava no ramo, e Walter Borba que cuidava do escritório. Os dois ficaram dirigindo a firma que estava localizada nos terrenos da minha propriedade. Eu passei a trabalhar por conta própria com caminhão, que nesta época já comprava muita madeira de pinho de Bom Retiro e serrarias próximas de Palmeiras, Encruzilhada, Índios e Lages.

A maior façanha da minha vida foi quando em 1958, junto com o sr. Antônio Gomes de Canelinha, com o meu caminhão Mercedes Benz (Bicudinho), fomos a Videira comprar uma carga de uva, embalada em caixas de madeira, e fomos vendê-la de cidade em cidade, começando por Três Rios (Estado do Rio) até de cidade de Governador Valadares em Minas Gerais. Dali fomos a Feira de Santana na Bahia comprar corda de sisal para vendê-la no retorno.

O resultado da viagem que durou 30 dias foi de 30 contos cada, descontadas as despesas de combustível, hospedagem, etc.

Apresentação no Cine Coliseu, década de 1950 Pedro Morelli assistindo apresentação no Cine Coliseu, ao lado de Mário Olinger.

Chegando em casa, uma surpresa agradável me esperava. O filho Vilson tinha passado no vestibular de Odontologia e Almir para ingressar na Polícia Militar.

Para o filho Vilson, tive que, para poder estudar, comprar o lugar do Esaú Laus, na Contadoria do Estado, pois ele se transferiu para Berlim Oriental.

Este emprego me custou os 30 contos, que depois receberia em 6 ou 8 parcelas mensais que o Sr. Esaú tinha direito.

Mas logo em seguida, tive outra surpresa não muito agradável, pois a firma da qual eu continuava como sócio, estava numa situação péssima.

Mais uma vez, de pleno acordo com os sócios, assumi o ativo e passivo da mesma, comprando meu irmão José a parte do sr. Guilherme Bonomini por 200 contos pagos em parcelas. Mas como eles tinham apresentado uma relação das dívidas da firma que não era a realidade, quando começou a aparecer mais dívidas que constavam na relação, o meu irmão José não quis mais continuar, assumindo eu esta parte também. Foi pena porque o irmão José sempre foi um comerciante duro e de grande visão. Talvez teríamos progredido muito. A parte de Walter Borba não foi preciso pagar pois não tinha integralizado.

Assumindo tudo, escrevi aos credores pedindo um prazo para pagamento das dívidas, que todos aceitaram e assim pude dentro de pouco tempo liquidá-las, a ponto de em 1966 com a minha irmã Maria e o sobrinho Alexandre fazermos uma viagem à Europa.
A principal finalidade desta viagem era conhecer o grande número de parentes que temos na Itália. Fomos os primeiros da família que mantivemos contato pessoalmente com os parentes de lá, pois até naqueles dias, só por correspondência.

Ninguém pode imaginar quando na primeira noite nos reunimos com grande número de parentes, saboreando o delicioso vinho da Itália.

Os nossos avós maternos Alexandre e Isabel Tirloni imigraram da Itália em 1876, mas só se conheceram aqui no Brasil. Ambos eram solteiros, se namoraram e casaram. Como tinham vindo da cidade de Bergamos, só falavam o Bergamasco (dialeto italiano) que ainda hoje a maioria dos botuveranenses ainda falam.

O casal teve 12 filhos, todos nascidos em Porto Franco, que numero adiante:

  • Joana: casada com João Morelli, meus pais (Botuverá)
  • Alvina: casada com José Maestri (Botuverá)
  • Rosa: casada com Carlos Tridapalli (Nova Trento)
  • João: casado com Narciza Gessele (Nova Trento)

Estes 4, como já eram casados, permaneceram aqui no Brasil. Meus avós com os 8 filhos solteiros voltaram para a Itália. Eram eles: Emanoel (que em 1950 esteve no Brasil), Eliseu, Angelina, Victoria, Antônia, Francisco, Vitório e Ângelo (este morreu no navio na viagem de retorno à Itália).

Quando estivemos na Itália, ainda tínhamos 4 tios vivos e grande número de primos.

Como não deve ter sido a despedida entre pais e irmãos em 1908, sabendo que nunca mais iriam se ver, pois naqueles tempos não era fácil uma viagem como esta. Me recordo quando criança, que minha mãe recebia cartas dos pais e irmãos, apesar de ela ser dura, não deixava de derramar lágrimas.

Os meus tios vivos e primos contam que, no começo, a vida foi muito dura, mas hoje felizmente todos estão muito bem. Alguns dos primos já estiveram aqui, e se quisessem, todos eles teriam condições financeiras de vir.
Durante a nossa viagem, além da Itália, conhecemos mais 8 países da Europa.

Continuando com a minha vida particular, depois dessa última sociedade, continuei sozinho.

Em 1973, comprei um terreno no "Agrião", acima 4 quilômetros de Ribeirão do Ouro. Eram 4 lotes de terra quase toda mata virgem. Construí uma estrada de 4 1/2 quilômetros mato adentro, num terreno muito acidentado. Certos trechos onde era só pedra, foi feito à picareta e dinamites, e o restante com trator. Na sede do Ribeirão do Ouro, num terreno alugado da família Schaadt, construí uma serraria quadro Tissô, mas como não tinha condições financeiras para compra de guincho para extrair madeira do mato e caminhões para transportar todas e madeira, fui obrigado a vender ao sr. Aldo Fronza. Também era muito difícil cuidar da serraria e do depósito aqui na cidade.

O meu hobby nos fins de semana era pescaria. Junto com os amigos Antenor Cavalca, Érico Zuick e Egon Appel e outros não tão assíduos, como Antônio Moreton, João Pazzini, íamos quase todo fim de semana, com o meu caminhão Mercedes-Benz, pescar no rio Itajaí Mirim, desde Águas Negras até o Agrião (na volta eu aproveitava para trazer madeira para o meu depósito). Naqueles tempos, tinha muito peixe neste rio, e todo domingo de manhã, voltamos com grande quantidade de peixe de diversas qualidades, mas o mais eram cascudos e traíras.

Além desta turma, mais adiante pesquei muito com outra turma, Nilo e Walter Bianchini, Mano e Bubi Montibeller, Chico Haag, Luti Rüdiger e o Marreta. Com esta turma também pesquei no Itajaí Mirim Nova Trento. Numa destas pescarias em Agoti (Nova Trento), em duas noites pegamos 400 cascudos. Junto com esta turma mais 2 de Blumenau, fomos caçar e pescar em Coxim, no Mato Grosso.

Com esta mesma turma, às quintas feiras jogávamos boccia na cancha do Ernesto Bianchini Filho, mais conhecido como "Stim". Aqui faziam parte também o Waldi Hassmann e o Stopa Hassmann. Os nomes que aqui menciono são quase todos apelidos. Durante algum tempo fiz parte do Rotary de Brusque.

Pedro Morelli no Rotary Pedro Morelli no Rotary de Brusque

Durante os 40 anos que trabalhei com madeiras, não consegui nada, a não ser os estudos dos filhos, que considero muito importante e que graças ao bom Deus, com o esforço deles e a minha pequena ajuda, todos estão muito bem.

Não posso deixar de mencionar que durante a minha vida como madeireiro, passei por diversas enchentes, que me deram muito prejuízo, principalmente a de 1o de novembro de 1961, que perdi toda a madeira que tinha em estoque, além da sujeira na oficina, que precisei quase um mês com os meus operários para fazer a limpeza. Mas não desanimei, comecei novamente a comprar madeiras a prazo e vender para depois pagar. Mas como se diz na gíria, Deus fecha uma porta e abre duas. Convém lembrar que na época não havia financiamento pelos bancos.

Em 1984, Brusque foi atingida pela maior enchente de todos os tempos, mas como não tinha mais a madeireira, o meu prejuízo foi só com o carro que ficou submerso, com a casa, móveis e outros pertences. Na minha casa tinha 1,80 metros acima do piso, mas como a minha residência é sobrado, pude salvar muita coisa.

Graças a Deus, a família Morelli e Tirloni é muito unida. Por diversas vezes em Dom Joaquim, fizemos diversos encontros com missa e almoço. O maior foi em junho de 1980, data em que a nossa mãe, Joana, completaria o centenário de nascimento. Compareceram aproximadamente 300 pessoas, todos da família.

Em 1979, me aposentei, mas continuei trabalhando mais 1 ano, porque para dar baixa na firma tive uma despesa muito grande, de modo que só com a aposentadoria não dava para saldar a mesma e viver. Durante este ano, trabalhei clandestinamente, sem pagar imposto algum. As máquinas da minha oficina dei ao meu filho Altair para ele poder se estabelecer por conta própria, mas ele não deu conta do recado. Os operários que mais tempo trabalharam comigo na oficina ou madeireira foram José Rezini, Pedro Maestri, Santo Dada, Luiz Tachini, José Tachini, Jacó Provesi, José Testoni, Altair Morelli, além de outros que trabalharam menos tempo.

Em 1980, com a venda de um caminhão F-4000 e venda de 1 pedaço de terra nos fundos da minha propriedade, consegui economizar um milhão de cruzeiros. Com a renda desse dinheiro na poupança, consegui melhorar de carro, pintar por 2 vezes a casa, pois antes da enchente tinha pintado e depois da mesma tive que pintar novamente e mais 1 viagem a Europa.

Em 1983, junto com as duas sobrinhas Dalila e Dalvina, que são religiosas, pude novamente ir a Europa. Conhecemos 9 países e ficamos lá durante 52 dias. Visitamos todos os parentes da Itália e na França na casa de um primo Bruno Pesenti, assistimos o casamento da última das 6 filhas. Celebrou o casamento um padre português que reside naquela localidade, Sainte-Livrade-Sur-Lot.

Em Roma, durante 5 dias, estivemos hospedados na casa do Superior Geral, da Congregação dos Padres do Sagrado Coração de Jesus. Este privilégio porque as duas sobrinhas são irmãs do Padre Alírio Pedrini, que é da congregação.
Durante os 5 dias, pagamos somente 600 liras cada um, que correspondia a 20 mil cruzeiros. Reside lá também o conselheiro da congregação, o catarinense Pe. Nelson Westrup, que durante muitos anos trabalhou aqui em Brusque, como Reitor do Seminário. Como estava de férias, nos acompanhou o tempo todo que estivemos em Roma. Não tenho palavras para agradecer ao Pe. Nelson o que fez por nós enquanto lá estivemos.

Consegui um lugar privilegiado para com todo conforto assistirmos numa quarta-feira, a audiência que o Papa concede na Praça de São Pedro, que estava superlotada de pessoas, formando caravanas com estandartes e bandeiras dos países. E o Papa, na língua deles, agradecia a presença. Não posso precisar o número de países presentes, mas posso garantir que passavam de dez.

Com o Pe. Nelson, visitamos a Basílica de São Pedro. De elevador sobe-se até um certo ponto. Ali em diante, mais 300 degraus a pé até chegar ao cume da cúpula. De lá, vê-se todo o Vaticano por fora e grande parte de Roma. Visitamos a Praça Navona, Palácio do Governo, o Pantheon, Foro Romano, as Ruínas, uma igreja onde tem uma enorme estátua de Moisés e as correntes que foi amarrado São Pedro, o cárcere de São Pedro e Paulo, as catacumbas de S. Calixto e um cemitério de 300 anos, todo ele subterrâneo com 20 quilômetros de rua de 1 metro de largura, com capelas onde os visitantes acompanhados de padre rezam missa. Em ambos os lados das passagens, existem gavetas, mas que não é mais possível abrir, onde foram antigamente enterradas aproximadamente 100 mil pessoas. As ruas se cruzam como numa cidade. Se não for acompanhado por um guia, não se acha a saída. Visitamos a Basílica de S. João Latrão, a maior depois do Vaticano, a Igreja da Cruz de Jerusalém internamente tem 3 escadarias. Na do meio só se pode subir ajoelhado. Visitamos S. Maria Maggiore, a 3a de Roma, forro dourado, 40 colunas de 80cm de diâmetro em mármore, o Museu do Vaticano com salas enormes de 10x15m. As 4 paredes laterais e o forro formam a pintura de um quadro que tem sua significação de Imperadores e Papas etc. Enfim, a Capela Sistina, a Igreja fora dos muros, onde no alto tem a fotografia de todos os Papas. Visitamos o Castelo Gandalfo, onde o Papa costuma passar as férias. Ali com o irmão gaúcho Puhl, que já há 30 anos trabalha lá, vimos o observador dos astros com o telhado móvel.

Visitamos a casa de Retiro dos Padres do S. Coração de Jesus, jantamos com eles, um porquinho inteiro assado, como é costume do lugar. Nesta viagem que é de aproximadamente 30 quilômetros, algo de notável pudemos ver. Numa descida, o motorista parou o carro, desligou o motor e pediu à irmã Dalvina que descesse. Está só com um dedo conseguiu empurrar o carro de volta morro acima.
Na Alemanha, na cidade de Köln (Colônia), vimos a famosa Catedral, o rio navegável com diversos luxuosos navios de turismo que faziam o percurso Köln-Düsseldorf. O único vestígio da Guerra 1939-1945, foi uma Igreja que está como quando foi destruída, com as estátuas no chão da Igreja.

Para falarmos em coincidência, na estação da Estrada de Ferro de Sttutgart, estava falando com o meu péssimo alemão com um casal e o mesmo me perguntou de onde eu era. Respondi que era brasileiro, de Santa Catarina, Brusque. Quando falei em Brusque, um casal de outra cidade parou e me disse que tinha estado em Brusque pelo Natal na casa do Pastor Siegle. Mas pouco tempo tivemos para conversar, pois o trem estava de saída. Fomos a Aulendorf, na casa de uma brasileira casada com o irmão Miguel Flekenstein. Junto com eles, visitamos uma ilha muito linda, com aproximadamente 1000x2000 metros. A travessia é feita com barcos com capacidade para 500 a 1000 pessoas. A ilha é toda cortada por ruas asfaltadas, muitas flores e árvores enormes com até 5 metros de circunferência. É de propriedade de um príncipe. Existe lá a casa de residência do príncipe, uma igreja e a casa onde moram os funcionários que conservam o lugar e limpam a ilha.

Em Trento, na Itália, estivemos na casa do Padre Luigi Giuliani, que já trabalhou em São Paulo, e era conhecido da irmã Dalilia, que também trabalhou em São Paulo. Fomos como ele, subimos a montanha Marmolada de carro até a altura de 2300 metros e dali em diante, com o Teleférico mais 650 metros. São 77 pequenos bondinhos aéreos para 2 pessoas. Enquanto a metade sobre, a outra metade desce, sem parar para os passageiros saltarem. Ali, as montanhas estão cobertas de neve perpétua, mesmo em pleno verão.

Em Nápoles, fomos visitar o Vesúvio. Até certa altura fomos de táxi, e o restante de teleférico com o Guida (como eles chamam). Fomos até o buraco que tem 450x560m de largura com 216m de profundidade. Na explosão de 1944, chegou a destruir 2 povoados, sem mortes. Este é o Vesúvio II.

No Vesúvio I, existem montanhas enormes com a altura de até 500m, tudo feito pelas lavas do ano 79 depois de Cristo, data esta que o Vesúvio destruiu a cidade de Pompéia, que também visitamos.
Ao terminar esta minha biografia, desejo ressaltar que sempre procurei cumprir na medida do possível os meus deveres familiares, religiosos, patrióticos e sociais.

No que tange aos deveres familiares, deixei que meus filhos seguissem, cada qual a sua vocação. Apesar das dificuldades que surgiram no caminho da minha vida, lutei para que meus filhos tivessem uma esmerada educação, proporcionando-lhes os meios indispensáveis para que seguissem a sua carreira.

Nesta altura da vida, posso afirmar de consciência tranquila, que possuo uma família bem unida e bem estruturada.

Com a participação efetiva e constante da minha esposa, não medimos sacrifícios para que os filhos fossem bem-sucedidos.

Casa de Pedro MorelliEsposa Gisela na casa da família, na rua Pedro Werner

Reportando-me aos deveres religiosos, felizmente vim de um berço cristão, tendo o privilégio de ter tido pais tementes a Deus, que desde cedo me incutiram na alma os sentimentos cristãos. Com os conhecimentos adquiridos no Seminário e com o propósito de sempre praticar a religião, foi-nos possível viver uma vida sempre ligada à Igreja, sentindo prazer interior em participar dos cantos e orações nos ofícios religiosos e em reuniões de cunho cristão, podendo no dia de nossas Bodas de Ouro, entoar um profundo "Te Deum" de agradecimento a Deus por nos ter auxiliado a perseverar em seu caminho.

Os deveres patrióticos foram cumpridos à risca, pois em três legislaturas, demos nossa decidida contribuição à Pátria, aceitando o encargo de representar várias comunidades no Legislativo Municipal. Nunca nos omitimos de servir ao Município, toda vez que fomos chamados a dar nossa contribuição, sempre fiéis ao pagamento dos impostos e outras taxas que nos eram solicitadas.

Não esquecemos os deveres sociais, participando ativamente da vida dos clubes, colaborando com os mesmos e vibrando com os seus sucessos.

É justo que do fundo da alma, expressemos um reconhecimento sincero a Deus, por nos ter ajudado a enfrentar todas as dificuldades e dar solução aos problemas que surgiram, no decorrer de nossa vida.

Depois de uma existência cheia de compensações, de alegrias, de trabalhos e vitórias, exclamar: Senhor, podes agora levar o teu servo, porque meus olhos tiveram a grande honra e felicidade de contemplar o teu semblante.

FIM
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Pedro Morelli faleceu em Brusque, em 3 de agosto de 1995, com quase 82 anos, 10 anos depois de ter escrito sua autobiografia. Deixou a esposa Gisela, que faleceu em 05 de agosto de 2011, aos 95 anos.

Leia a Parte I da Autobiografia de Pedro Morelli