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Autobiografia de Pedro Morelli - Parte I - Infância e Vida de Solteiro (1913-1935)

Brusque, 12 de outubro de 1985

Eu, Pedro Morelli, nasci em Porto Franco, hoje Botuverá, no dia 29 de agosto de 1913. Mas como meu pai, num quadro onde marcava hora, dia, mês e anos do nascimento dos filhos, constava em vez do dia 29, dia 30, sempre continuei comemorando meu aniversário neste dia.

 

Certidão de Nascimento de Pedro Morelli
Certidão de Nascimento de Pedro Morelli

Filho de João Morelli e Joana Tirloni, ele nascido na Itália no dia 6 de dezembro de 1874, ela nascida em Porto Franco no dia 17 de julho de 1880. Foram avós paternos Pedro Morelli e Anunciata Vavassori e meus avôs maternos, Alexandre Tirloni e Isabel Colombi Tirloni.

João Morelli e Joana Tirloni Morelli - Pais de Pedro Morelli
João Morelli e Joana Tirloni Morelli - Pais de Pedro Morelli

 

Alexandre Tirloni 

Alexandre Tirloni e Elisabet Colombi Tirloni - Avós maternos de Pedro Morelli

Fui batizado na Igreja Matriz de Porto Franco, no dia 7 de setembro de 1913. Foram meus padrinhos Atílio Batistoti e Anunciata Morelli, esta representando a tia Luiza Batistotti, que não pôde estar presente na cerimônia.

Fui crismado no dia 26 de novembro de 1915. Foi meu padrinho, Ludovico Merico, que mais tarde casou com minha irmã Maria. Foi celebrante o bispo D. Joaquim Domingues de Oliveira.

Tomei a primeira comunhão na mesma igreja no dia 27 de janeiro de 1024. Como celebrante, D. Germano Brand.

Frequentei o primário em Porto Franco. Foram meus professores, Germano Bonomini e Humberto Mazolli.

No dia 7 de setembro de 1922, nós alunos da Escola Estadual de Porto Franco, viemos à cidade comemorar o centenário da Independência do Brasil. O meio de locomoção foi de carroça.

À noite, junto com meu irmão José, que esstava estudando na cidade no Grupo Escolar Feliciano Pires e residia na casa do Sr. Jaime Luz, íamos a pé ao salão da Sociedade Ginástica, mais conhecida naquele tempo como Turn-verein, hoje Sociedade Bandeirante. De repente apareceu atrás de nós o único automóvel existente em Brusque na época, de propriedade do Sr. Guiherme Niebuhr. Como vinha com os faróis acesos, eu de medo não sabia para onde correr. Na hora marcada para a volta à Porto Franco, diversos alunos não apareceram pois tinham se perdido.

As rezas na Igreja como em casa eram feitas em italiano e latim. Ainda hoje costumo rezar o ato de contrição em italiano que aprendi em casa. Naquele tempo não existia em Porto Franco uma só pessoa que não fosse descendente de italiano e não falasse este idioma. Só mais tarde, o sr. Luiz Cestari vem à cidade aprender ferreiro no sr. Guilherme Niebuhr e casou com a dna. Paulínia, de origem alemã, mas que teve que aprender o italiano. O mesmo aconteceu com a minha cunhada Thereza Winther, casada com o meu irmão Luiz.

Não posso deixar de mencionar algumas proezas do tempo de criança.

Num galpão do sr. Bernardo Tachini, onde guardava o milho em soca, o filho dele, o Saulo, o Luiz Vicentini e eu, fizemos cigarros de palha de milho e fumei a tal ponto de ficar ruim, que cheguei a vomitar, talvez por causa disso nunca mais pus um cigarro na boca.
Numa outra ocasião, no lado da Casa Paroquial, tinha um quintal muito grande, e como tanto a casa como o quintal estavam abandonados, pois não tinha na época padre residindo, ali os meus tios José Maestri e João Tirloni, que eram sócios, soltavam os cavalos.
O Luiz Vicentini e eu com um cabresto improvisado com cipó, montamos nos cavalos e jogávamos corrida, a ponto dos mesmos ficarem encharcados de suor. Alguém viu e denunciou ao tio José. Quando o mesmo apareceu, saltamos dos cavalos e corremos para dentro do mato que tinha ali perto, de modo que não conseguiu nos pegar, mas disse que ia denunciar aos nossos pais. Ao Luiz Vicentini, os pais nem tomaram conhecimento e nada aconteceu.

Eu esperei para chegar em casa mais tarde ao escurecer, na frente da nossa casa de comércio e ao mesmo tempo da residência, havia uma calçada larga e comprida, onde os fregueses que vinham fazem compras, sentavam junto com os meus familiares e empregados para bater um papo. A esta hora, meu pai apareceu na porta e me convidou para entrar, me deu alguns tapas e prendeu no quarto sem ceia. Mas acontece que no quarto tinha uma caixa com doces enfeitados, que compravam na cidade na confeitaria do sr. Max Koehler, para vender aos fregueses em vésperal de Natal. Assim não pude matar a fome com os doces. Acredito que tenha sido a única vez que apanhei do meu pai.

Uma outra ocasião, o Augusto Maestri e eu no Ribeirão de Porto Franco. Perto da casa do pai dele morava o Leli Fachini (apelido) que tinha uma plantação de melancias. Entramos na roça e apanhamos diversoas e soltamos ribeirão abaixo para pegarmos as mesmas em Porto Franco. Nós acompanhávamos pelo ribeirão, mas não aproveitamos nada, porque nas corredeiras batiam nas pedras e rachavam. O proprietário descobriu e nós tivemos que pagar para que não denunciasse a nossos pais.

Em 1912, foi criada a Paróquia de Porto Franco. Foi nomeado como primeiro vigário o Padre João Stolte, que não posso precisar até quando ficou, pois em 1922 quando comecei como coroinha, ele não estava mais. Daqui em diante até aproximadamente 1938, não tinha mais padre residente. Os padres da cidade vinham de vez em quando, fazer as visitas.

O Pe. João era muito enérgico, além de vigário, era também professor. Mais tarde, os alunos contavam que ele batia muito neles. Só a presença dele bastava para tremer como vara verde.

A locomoção dos padres da cidade que vinham fazer as visitas mensais era à cavalo ou com o carro de mola do Felice Avanci, cuja viagem durava de 6 a 8 horas, dependendo do estado das estradas. Nos tempos de chuva, os cavalos atolavam até os joelhos. Numa dessas visitas, o Padre Germano comprou um cavalo do meu irmão Luiz. Junto com o Padre, vim até a cidade trazer o animal.

Quero agora relatar algo sobre a vida dos meus pais até a idade de 12 anos, que convivi com eles.

Minha mãe era muito enérgica, era uma verdadeira dona de casa. Era muito carinhosa para com os filhos, mas exigia o máximo deles, no cumprimento dos deveres. A minha irmã Pepa me contou certa vez que quando eu estava no seminário que tinha licença para passar uns dias em casa, ela mandava fazer uma lata cheia de orelhas de gato (doces) no Esperandio Zanca, que era especialista no assunto, pois ela sabia que eu gostava muito.

Com as famílias mais pobres, era muito caridosa. Quando sabia que tinha pessoas pobres, ela mandava um de meus irmãos, Luiz ou José, a cavalo, levar comida ou remédios. Ela era uma espécie de orientadora das famílias de Porto Franco.

Quando os pais dos noivos vinham comprar o enxoval para os filhos que iam casar, ela que dizia o que deviam comprar de acordo com as possibilidades de cada um. Naquela época, havia muita pobreza em Porto Franco.

A única casa de comércio existente desde Águas Negras até Ribeirão do Ouro era dos meus pais, dirigida por minha mãe, pois ela que fazia as compras, vendia e fazia os livros (escrita), como se dizia. Muitas vezes ia à Florianópolis fazer compras de carro de mola. Levava 2 dias para ir e 2 dias de volta. As compras aqui na cidade eram feitas na Loja Renaux.
Ainda algum tempo antes de falecer, o Rainoldo Gleich, que era gerente, me contava que quando minha mãe chegava, ele fazia questão de serví-la ele mesmo.

No dia 11 de março de 1934, ela faleceu com apenas 54 anos de idade, de derrame. Além da família, a população toda de Porto Franco sentiu muito a morte dela.

O meu pai não gostava de trabalhar em casa, na venda (como se costumava dizer). O maior trabalho dele sempre foi construir estradas, serrarias e acompanhar os empregaos nos trabalhos fora de casa, como limpeza dos postos, construir cercas e pequenas plantações de gêneros alimentícios para a família e trato para os animais.

Como em Porto Franco não existia empregos e o pessoal não tinha como ganhar para o sustento da família, ele mandou construir um campo de futebol que durou aproximadamente 2 anos, para o povo ter onde ganhar para viver.
A pedido da população de lá, mandou construir uma fecularia, pois ele não tinham onde vender a mandioca e a farinha não tinha preço. A mesma era movimentada por turbina, que mais tarde serviu para tcoar o gerador que fornecia luz a todo Porto Franco.
Mas a fecularia funcionou pouco tempo, pois nesta época descobriram que nas margens e no próprio Itajaí Mirim, havia ouro. Desistiram de plantar mandioca e começaram a extração do ouro.
Mas como já disse, o forte do meu pai era construir estradas e serrarias. Ele costumava requerer terras, fazer estradas e construir serrarias, depois convidar uma pessoa de sua confiança e vender ao mesmo para pagar em madeira, dentro das possibilidades.
Me lembro de algumas serrarias que assim foi feito.
Serraria do "Campo Novo" no Ribeirão de Porto Franco, tendo como sócio Francisco Maestri.
Serraria de "Coqueiros", sociedade com Augusto Vanelli.
Serraria de "Três Barras", sócio Domingos Martinenghi.
Convém mencionar que para estas duas últimas serrarias, foi construída uma estrada de acesso às mesmas, que levou 2 anos, que para fazer o trilho onde ia ser construída a estrada, o operário tinha que ser amarrado com uma corda devido ao perigo, pois pelo lado de baixo tinha um abismo com aproximadamente 200 metros de profundidade.
Outra serraria foi a "Areias", que tinha como sócio Elizeu Rezini, que levou da Guabiruba.
Outra do "Cinema". O sócio foi Ângelo Barni, que hoje ainda pertence ao filho Luiz Barni.
Outra a Serraria da "Vargem Grande", que tinha como sócio João Barni.
Outra a do "Veado", que não me recordo a quem vendeu.

A madeira naquela época era transportada de carroça até nas margens do rio Itajaí Mirim, e quando chovia que o rio enchia uns 50cm, seguia em balsas até Brusque e Itajaí. Com cordas de embira, que os proprietários de serrarias extraem dos próprios matos, amarravam em pilhas de 2 dúzias, e oito dessas amarradas junto que cada balseiro trazia pelo rio até a cidade de Brusque. Daqui em diante eram amarradas numa só, e somente 2 balseiros levavam até Itajaí. Às vezes, quando o rio abaixava muito rápido que não podiam mais continuar a viagem, tinham que esperar que chovesse novamente para poder continuar a viagem. A madeira vinha em balsas desde as localidades de Thiemann, Bigí (apelido), Veado, Areias, Ribeirão do Ouro, Lageado, Porto Franco e Águas Negras.
No retorno de Itajaí a Porto Franco, os balseiros viajavam a pé, às vezes em certos trechos pegavam carona de carroça.

Nós éramos em 9 irmãos: 
•    Luiz, casado com Thereza Winther. Tiveram 12 filhos.
•    Maria, casada com Ludovico Merico, 7 filhos.
•    Ana, casada com Dionísio Pedrini, 9 filhos.
•    José, casado com Clara Rudolf, tiveram 16 filhos, dos quais 4 morreram ainda crianças.
•    Josefina, casada com o primo Anselmo Maestri, tiveram 7 filhos.
•    Pedro, casado com Gisela Ristow, 6 filhos.
•    Manoel, casado com Noêmio Amorim, 5 filhos.
•    Isabel, casada com Ernesto Barni, 7 filhos.
•    Rosa, casada com Ariberto Diegoli, 6 filhos.

Continuando com a minha vida particular, em fevereiro de 1925, ingressei no Seminário dos Padres do Sagrado Coração de Jesus, em Brusque, no primeiro ano de funcionamento do Seminário. No segundo semestre de 1924, 4 seminaristas, depois padres, Conrado Rech, Jorge Brand, Honorato Piazera e Arno Miranda, começaram no colégio das irmãs, pois o prédio onde em 1925, funcionava o seminário, ainda não estava pronto.

Seminários dos Padres do Sagrado Coração de Jesus em Brusque - 1925

Fotografia do 1º ano de funcionamento do Seminário dos Padres do Sagrado Coração de Jesus em Brusque (1925)
Sentados 1ª fila: Padre Miranda, José Malburg, Pedro Morelli, Theodoro Werner, Padre Aloysio Böing, Edmundo Schlindwein, Padre Antônio Boos, Dom Honorato Piazera
Em pé: Bela Fischer, Antonio Böing, Fidelis Wolf, Gregório Flor, Francisco Corbeto, Walter Holtausen, Padre João da Cruz Stupp, Padre Tarcísio (Antonio) Delseiter, Olímpio Miranda, Nicanor
Em pé 2ª fila: Theodoro Wolf, Gabriel Hoeppers, Padre Conrado Rech, Padre Jorge Brand
Em pé 3ª fila: Padre Lourenço F., Padre Ignacio Burich
(Pode ter havido erro de grafia em alguns nomes)

 

Em 1925, o Seminário funcionou com 21 alunos, aumentando todo ano gradativamente. Em 1932, o Seminário foi transferido para Corupa, funcionando aqui somente a Filosofia.

Os nossos professores era todos padres alemães, como Pe. Germando Brand, Pe. Inácio Burichter, Pe. Ludovico Foscius, Pe. Guilherme Thomeick, ótimo professor de línguas, Pe. Alberto Jacobs e Pe. Sebastião Rademacker. A vida de Seminário era muito dura. Comíamos muito mal, pois a congregação naquele tempo era muito pobre. Me lembro ainda que 3 seminaristas pagavam o teto que era de 500 mil réis. Eram eles: José Malburg, Aloísio Steiner e eu. Alguns pagavam 200 mil réis por ano e alguns mais pobres, nada. Os seminaristas do Sul do Estado remetiam batatas inglesas como pagamento das anuidades. O pão era feito em quantidade grande, que quando chegava à mesa, já estava mofado.

Uma ocasião depois de algumas semanas, que comíamos só pirão com carne seca ensopada, como protesto desenhamos um alvo, e com bolas de pirão disputamos o melhor atirador. O resultado foi ficarmos presos na hora do recreio durante 1 semana. Certa ocasião falando com o Pe. Honorato Piazera que era Provincial, hoje bispo de Lages, me disse o seguinte: "Pedro, não quero que meus alunos passem o que nós passamos." As refeições eram servidas em travessas para cada 8 alunos. Todos os dias revezavam quem começasse a se servir. Os primeiros tiravam demais, de modo que a maioria da vezes nada sobrava para os últimos.

Durante 3 dias por semana, éramos obrigados a falar alemão. Sabe o que é isto, sair de Porto Franco onde só se falava italiano e mal falava o português, ter que falar alemão. Porém hoje estou muito satisfeito porque só assim hoje falo corretamente o alemão e alguma coisa de francês. Ainda me lembro de uma frase que aprendi com o Pe. Guilherme. "Sanctéé n'est pas sens ti, mais maladie est plus ti." Me perdoem se a ortografia não estiver correta.

Certa ocasião fui passar as férias em casa dos seminaristas do Sul do Estado, Tubarão, Vargem do Cedro, Braço do Norte, Forquilhinha, Capivari, etc. Embarcamos em Itajaí no Vapor Max até Imbituba. Como era um "cabrito", como se costumava dizer, pois pulava muito, todos nós enjoamos muito a ponto de chegamos a vomitar. Estive na casa do Lauro Locks, dos pais do Pe. João da Cruz Ztupp. Este não foi junto, pois só de 2 em 2 anos tínhamos direito a passar 15 dias na casa do pais. A família do Pe. João era de colonos humildes, possuíam uma casa bem pequena. Em Tubarão, me hospedei na casa dos pais do Francisco Corbetta. Ele ficou satisfeito porque eu falava o italiano em dialeto Bergamasco, que ele nunca tinha tido a oportunidade de falar, pois em Tubarão, me disse que não tinha imigrantes de Bergamo da Itália. Mais tarde soube pelos filhos que, andando no mato, tinha caído dentro de um buraco fundo, que não podia mais sair, e permaneceu lá dentro durante alguns dias e noites no meio de cobras e poucos lugares sem água, até que foi encontrado.

Com os que foram meus colegas de Seminário, ainda mantenho relações de amizade com diversos, que ainda estão vivos: o Padre João da Cruz Stuepp, Pe. Bruno May, Pe. Miranda, Pe. Fidelis Tomelin, Pe. Aloysio Boeing, Pe. Dalsenter, Pe. Honorato Piazera, hoje bispo de Lages, com os leigos Francisco Corbetta, de Florianópolis, Lauro Locks em Biguaçú, Apolônio Westrupp - Armazém, Gabriel Hoepers - Vargem do Cedro, Leonardo Hoepers - Rio do Sul, Fidélis Wolf em Jaraguá do Sul.

Em 1928, passamos 1 mês de férias em Porto Franco. Residimos na Escola, onde hoje é o Salão Paroquial. Foi nosso reitor o Pe. Sebastião Rademacker. No começo nos deu muita liberdade. Tomávamos banho diariamente no Rio Itajaí Mirim e jogávamos futebol num campo improvisado, no posto que era de propriedade de meus pais, hoje nos fundos da casa de Augusto Maestri e Rainoldo Maestri. No final da temporada, ele teve que bancar o durão.

Em meados de 1929, desisti do Seminário pois minha vocação não era o sacerdócio.

Em fevereiro de 1930, ingressei no Colégio Santo Antônio dos Padres Franciscanos de Blumenau. Ali fui matriculado no VII ano, o mais alto do Colégio, que para mim foi mais uma repetição do que tinha aprendido no Seminário.

Fiz o Tiro de Guerra, que foi interrompido pela Revolução de 1930. Passamos por decreto e recebemos a Caderneta de Reservista no dia 21 de abril de 1931, quando nos deslocamos para lá para fazer o juramento à Bandeira.
Neste educandário, fiquei só 1 ano, porque só em 1932 foi criado o ginásio e eu teria que parar 1 ano.

Estudavam comigo em Blumenau os brusquenses Dr. Carlos e Bruno Moritz, Egon Krieger e Dr. Felix Schaefer. Durante o tempo do colégio, jogava no time do Tamandaré da segunda divisão.

Na minha volta, fiquei na cidade de Brusque alguns dias, onde na véspera de Natal, inauguramos a iluminação do estádio do C. E. Paysandu, feita com postes de madeira pelo então presidente Victor Adhemar Gevaerd.

Novamente voltei para a casa dos meus pais, mas depois de alguns dias, vim trabalhar na casa do meu cunhado Ludovico Merico, no Cedro. Mas fiquei ali pouco tempo, indo novamente à Porto Franco. Como já jogava no titular do C. E. Paysandu, muitos fins de semana vinha a cavalo à cidade jogar futebol.

No dia 20 de abril de 1931, o Dom Joaquim Domingues de Oliveira ia fazer a visita a Porto Franco. Eu estava encarregado de ler o discurso ma chegada. Um grande número de cavaleiros o esperavam a 1 quilômetro da vila. Quando terminou a cerimônia, já estava escurecendo.

Como no dia seguinte, às 7 horas, tinha que estar na cidade afim de pegar o ônibus que me levaria à Blumenau para fazer o juramento à Bandeira para podermos receber a Caderneta de Reservista da IIa Categoria, encilhei a égua marchadeira, porque os meus irmãos Luiz e José sempre tinham um cavalo que era usado só para montaria, e na escuridão da noite, pus-me a caminhar. A dois quilômetros do Cedro, no lugar conhecido como fazenda do Willy Krieger, a égua assustou-se com o barulho de uma pedra ou de um animal que caiu no lado de baixo da estrada, disparou e foi correndo até o Cedro, com o meu consentimento, porque estava com mais medo do que ela, até chegar na casa do meu cunhado Ludovico Merico.

Só no dia seguinte continuei a viagem, chegando na casa do tio Batistiotti bem na hora do ônibus partir.
Nessa idade de 17 a 18 anos, eu jogava boccia com os adultos, pois modéstia à parte, era um dos melhores jogadores. Naquela época só se jogava por cima, pois as canchas eram muito ruins. Os melhores jogadores eram, meu pai, que era canhoto, os irmãos João Arcangelo, Augusto e Dionísio Pedrini e Carlo Maestri.

A bebida predileta que era disputada era cerveja ou vinho misturada com gasosa, e para os mais pobres, capilé com cachaça, que denominavam de "Champanhin". Durante estes meses que fiquei em casa, ajudava meus irmãos, levantava cedo para buscar os cavalos no pasto na escuridão da noite, ia cortar cana para o trato dos animais, que todas as folhas secas tinham que ser retiradas. Este trabalho levava de 4 a 5 horas. Buscava os mantimentos que comprávamos dos fregueses e madeira que comprávamos das serrarias.

Em julho de 1931, vim à cidade trabalhar na Loja Renaux, como balconista, e às vezes como auxiliar de escritório. Residi nas casas de Anselmo Mayer, colega de trabalho, Germano Westphal, Isidoro Mafra, Hotel Marcadelli e tio Batistotti. O horário de trabalho na loja era muito duro, das 6h30 da manhã até 7 da tarde, com 1 hora para o almoço, revezando entre os funcionários, pois o comércio não fechava ao meio-dia.

Os diretores eram tão rigorosos que em frente à loja, porém do outro lado da rua, o sr. Theodoro Garcia tinha uma garapeira, mas como não tínhamos licença para ir até lá, ele às escondidas, trazia a garapa na loja.

Continuei jogando no titular do C. E. Paysandu, mas nunca cheguei a ser um bom jogador, pois durante o trabalho não tínhamos licença para treinar. Mas como não havia iluminação, à noite às vezes fazíamos física. Foram meus companheiros de futebol no Paysandu (pois não joguei em outro clube): Osmar Petermann, Antônio Rocha, Leo Helmer, Alfredo Deichmann, Hugo Ratke, José Custódio, Raul Krieger, Guilherme Albani, Álvaro Carvalho, Mas Ristow, Ervino Deichmann, Geraldo e Érico Appel, Janga Rosin, Soni Kühn e Janga Rocha, além de outros que durante poucas partidas jogavam no nosso time. Em 1937, desisti do futebol, mas continuei no clube como secretário, diretor de futebol e mesmo presidente do Conselho Deliberativo.

C.E. Paysandu 1931

Time do C. E. Paysandu de 1931
Agachados: Antônio Haendchen, Osmar Petermann e Alfredo Deichmann
Ajoelhados: Guilherme Albani, Raul Krieger e Evaldo Appel
Em pé: Victor A. Gevaerd, Norival P. Loureiro, Janga Rosin, Helmuth Kühn, Pedro Morelli, Érico Appel, Evaldo Appel e Anselmo Mayer

No meu tempo de solteiro, como gostava muito de dançar, frequentava as grandes sociedades da cidade, que tinham salões próprios, como Paysandu, Brusquense (hoje Carlos Renaux), Sociedade Ginástica, mais conhecida como Turn-verein. Como emblema tinha desenhado em frente à sede 4F, que significava em alemão Frisch Fromm, Frölich Frei, hoje Sociedade Esportiva Bandeirante. Frequentava também o Schützen-Verein (hoje Clube de Caça e Tiro Araújo Brusque), cujos festejos pela Páscoa começavam no sábado até terça-feira, pois segunda-feira e terça à tarde ninguém trabalhava. Outros salões menores também como Pomerânica (hoje Beneficente), Poeira, Maffezolli, etc.

Os maiores batalhadores do C. E. Paysandu no meu tempo foram Vitor A. Gevaerd (que construiu a 1a sede, onde hoje está situada a atual), Anselmo Mayer, Arthur Jacovites, Norival P. Loureiro, Arthur Appel, Ivo Renaux e a família Appel, Ayres Gevaerd, Armando Polli, Arthur Kistenmacher, Tasso Rodrigues e outros que não me lembro no momento. Me perdoem se esqueci alguém.

(CONTINUA...)

Leia a Parte II da Autobiografia de Pedro Morelli