Após mais de 25 anos de inquietude e buscas, o historiador Paulo Vendelino Kons localizou, na página 3 do Diário Oficial da União de 1º. de janeiro de 1898, o decreto de 29 de dezembro de 1897, que nomeou os oficias da Guarda Nacional em Brusque.
E não somente do coronel comandante Guilherme Krieger (o mais abastado comerciante, cuja casa comercial hoje é ocupada por uma das maiores redes varejistas de eletro e móveis do Brasil, no início da avenida Cônsul Carlos Renaux) e dos comandantes do 7º. e do 8º. Regimento de Cavalaria, respectivamente Carlos Renaux (fundador da Fábrica Renaux, Deputado Constituinte estadual e Cônsul na Europa) e Nicolau Lauritzen (empresário cervejeiro), mas também do Major-fiscal, do Capitão-ajudante, do Tenente-secretário e do Tenente-quartel-mestre dos dois regimentos, bem como dos Capitães-assistentes e Capitães-ajudantes de ordens do Comandante Krieger.
Kons destaca a importância do achado, pois “ao contrário do que alguns diziam, que em Brusque havia sido replicado o coronelismo de outras regiões, os nossos coronéis foram nomeados por um governo civil e constitucional, presidido pelo advogado Prudente José de Morais e Barros, que anteriormente presidira a Assembleia Nacional Constituinte de 1891”, destaca.
Um dos momentos de maior visibilidade da Guarda Nacional foi a visita de inspeção realizada pelo general Marciano Magalhães, em 30 de julho de 1907. O principal jornal de circulação regional, Novidades (publicado em Itajaí pela família Konder), destacou que o general, que era “irmão do inolvidável fundador da República Benjamin Constant” fora recebido em Brusque por Carlos Renaux, na qualidade de Comandante da Guarda Nacional. Guilherme Krieger solicitou a retificação da matéria em carta endereçada ao jornal Novidades, informando que “como Coronel Comandante que sou da Guarda Nacional nesta Comarca de Brusque, não passei o comando ao Sr. Tenente-coronel Carlos Renaux e, se o tivesse de fazer, seria o Sr. Tenente-coronel Nicolau Lauritzen (...) que assumiria o comando, como mais velho (...)”.
Decreto do Presidente da República Prudente de Morais - de 29 de dezembro de 1897, publicado na página 3 do Diário Oficial da União (DOU) de sábado, 1º. de janeiro de 1898 - nomeou os integrantes da Guarda Nacional em Brusque:
DIARIO OFFICIAL
ESTADOS UNIDOS DO BRAZIL
REPUBLICA FEDERAL ORDEM E PROGRESSO
ANNO XXXVII – 10º. DA REPUBLICA – Nº. 1 CAPITAL FEDERAL SABBADO 1º. DE JANEIRO DE 1898
ACTOS DO PODER EXECUTIVO
Por decretos de 29 de dezembro último, foram nomeados para a Guarda Nacional
ESTADO DE SANTA CATHARINA
Comarca de Brusque
Coronel comandante: Guilherme Krieger
Capitães-assistentes: Oscar Renaux e Manoel dos Santos Bittencourt
Capitães-ajudantes de ordens: Germano Krieger e Antonio Werner
7º. Regimento de Cavallaria
Tenente-coronel comandante: Carlos Renaux
Major-fiscal: Carlos Gevaerd
Capitão-ajudante: João Francisco da Rocha
Tenente-secretário: Victor Gevaerd
Tenente-quartel-mestre: Arthur Germer
8º. Regimento de Cavallaria
Tenente-coronel comandante: Nicolau Lauritzen
Major-fiscal: João Luiz Gonzaga
Capitão-ajudante: Tenrini Aquillino
Tenente-secretário: Augusto Maluche Filho
Tenente-quartel-mestre: Emilio Raguse
A relevância militar, política e social da Guarda Nacional
Para melhor compreender a relevância militar, política e social da Guarda Nacional em Brusque e no Brasil, é importante recordar que após a abdicação de D. Pedro I, o governo imperial foi assumido pela chamada “Regência Trina Permanente”. E uma das primeiras medidas do novo governo foi a criação da Guarda Nacional, no dia 18 de agosto de 1831, com base na experiência da França, que havia transferido a segurança do país para os próprios cidadãos, que teriam a função de auxiliar as forças policiais e o Exército a manter a ordem no país.
Todo brasileiro com renda mínima para ser eleitor era obrigado a se alistar para a Guarda Nacional, com a condição de que fossem homens sadios, na faixa etária de 18 a 60 anos. Os únicos que não estavam incluídos nesta lista eram as autoridades administrativas, judiciárias, policiais, militares e religiosas. As tropas não eram remuneradas, no entanto tinham as obrigações de prestar serviço até os 60 anos, providenciar seu uniforme, fazer a manutenção das armas e equipamentos que utilizavam e pagar contribuições em dinheiro.
Após proclamada a República, em 1892 a Guarda Nacional foi integrada ao Ministério da Justiça e Negócios Exteriores e, em 1918, passou a ser subordinada ao Ministério da Guerra, quando foi tacitamente absorvida pelo Exército. A última atuação da Guarda Nacional foi sua participação do desfile do Centenário da Independência do Brasil, em 7 de setembro de 1922.
NOTA: o ato de nomeação dos integrantes da Guarda Nacional em Brusque não constava - até a presente data (31 de julho do ano da graça do Senhor de 2014) - em nenhum livro, artigo ou outra fonte de informação, sendo portanto um documento inédito (possuímos cópia reprográfica) a ser incorporado nos anais da história de Brusque, no transcurso do 154º. aniversário de instalação do núcleo colonial que originou nossa querida Cidade. Rendo preito de gratidão a memória de Ayres Gevaerd, que soube tão bem intensificar em mim a convicção de que “o respeito pelo passado e a responsabilidade pelo futuro dão à vida a direção certa”, há mais de 25 anos, quando me escolheu para com ele trabalhar na Casa de Brusque.
*Texto: Historiador Paulo Vendelino Kons.
Publicado no site da Rádio Araguaia. Sem data.